O Efeito da Democratização das Tecnologias de Investimentos Financeiros no Estudo das Finanças Comportamentais

A compreensão dos mercados é objeto de estudos há muito tempo e isso se dá pela importância de entender os movimentos da economia e seus resultados na vida de uma população. Não é difícil perceber a relevância que há em estabelecer modelos que sejam capazes, por exemplo, de prever crises econômicas ou momentos de grande rentabilidade para nortear investimentos e decisões. Por essa razão, é de se esperar que surjam estudos e técnicas cada vez mais avançados na busca por esse conhecimento.

 

Na tentativa de estabelecer um modelo prático que fornecesse os resultados desejados a partir de variáveis conhecidas ou propostas, assim como o homem sempre buscou ao longo de sua evolução, nada mais natural que a matemática pudesse oferecer a equação para esse problema. Para isso, no entanto, era necessário que o homem, peça fundamental nesse processo, fosse incluído no algoritmo como uma variável perfeitamente descritível e possível de ser medida. Daí surge, o que mais a frente foi percebida, a primeira grande aproximação deste modelo de finanças tradicional e que acaba por comprometer muitos dos resultados observados na prática.

 

A aproximação da realidade na busca de uma metodologia científica precisa criou o chamado homem econômico, perfeitamente racional, detentor de todas as informações e capaz de tomar as decisões baseadas exclusivamente na tecnicidade do tema. Obviamente, isso está bem distante da realidade observada. O homem interfere de maneira considerável nos resultados e, claramente, trata-se de uma peça muito influenciada por fatores psicológicos e emocionais. Isso foi observado já nos estudos de Allais (1953) e Ellsberg (1961) e, de lá, surgem os primeiros conceitos de Finanças Comportamentais.

 

Mesmo sendo uma abordagem ainda encarada com desconfiança por alguns centros de estudos, a ideia de que fatores de comportamento e o ambiente influenciam na economia vem ganhando força. Seria essa incredulidade uma evidência da ação do homem não perfeito? É bem plausível considerar que sim, afinal é muito mais seguro acreditar que se tem o domínio pleno do processo de tomada de decisão.

 

Com a democratização das informações pela tecnologia que introduz, numa velocidade cada vez maior, o homem no centro do ambiente de tomadas de decisões do mercado de capitais, a importância de considerar sua sensibilidade a fortes emoções torna-se ainda mais imperativa.

 

É possível que, se considerarmos algumas décadas atrás, onde apenas os grandes especialistas, muito bem formados, adaptados às regras rígidas e frias do ambiente financeiro, dominado por números e cálculos, a figura do homem econômico fosse mais próxima daquele elemento que participava das decisões relevantes, mas, hoje, com a presença maciça de personagens nem sempre tão bem qualificados, onde grandes volumes de investimentos são realizados a partir de ações que podem ocorrer até mesmo dentro de casa, por meio de um computador pessoal, o impacto seja bem significativo no resultado final.

 

É, portanto, perfeitamente esperado que, embora as Finanças Comportamentais ainda não sejam capazes de substituir o modelo tradicional, seu aprofundamento vem ganhando força no mundo dos negócios pois, com o advento de ferramentas de investimentos mais populares que os pulverizam a diversificadas populações, obriga que a figura do investidor seja considerada em sua integralidade, capaz de compreendê-la como se comporta diante das emoções para que se possa estabelecer ou conhecer, com mais fidelidade, os resultados a alcançar.

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

ALLAIS, M., “Le Comportement de l’Homme Rationnel devant le Risque, Critique dês

Postulats et Axiomes de l’Ecole Americaine.” Econometrica 21, pp. 503–46. (1) (1953).

 

ELLSBERG, D., “Risk, Ambiguity, and the Savage Axioms.” Quarterly Journal of Economics 75, pp. 643–69. (1961).

 

SIMON, H., “Rational Choice and Structure of the Enviroment.” Psychological Review 63, pp. 129-38 (1956).