O Poder do Capital Paciente: Liberando Valor de Longo Prazo

Aqueles que estudaram finanças conhecem bem o valor do dinheiro no tempo: conceito econômico básico que estabelece que há maior benefício em receber uma quantia no presente do que recebê-la no futuro, devido ao custo de oportunidade de obter retorno nessa quantia aplicada no mesmo período, além do risco e incerteza do seu recebimento. De que modo, então, compatibilizar a lógica financeira com o fomento de impacto, cujos projetos muitas vezes dependem de prazos longos para obedecer a lógica de mercado? Diante de tal questionamento, o capital paciente pode ser uma das soluções.

 

O termo supracitado refere-se aos investimentos feitos com perspectiva de longo prazo, que muitas vezes se estendem por vários anos. Ao contrário do capitalismo de risco convencional, o capital paciente não é guiado pela necessidade de retornos financeiros instantâneos ou de curto prazo. Em vez disso, tem como objetivo o crescimento sustentado e a criação de valor, tornando-se um componente essencial para empreendimentos inovadores, projetos de sustentabilidade e empreendedorismo social.

 

Nesse sentido, o capital paciente é caracterizado pela flexibilidade em assumir riscos calculados na busca de benefícios de longo prazo para a sociedade. Enquanto a maioria dos modelos de investimento são regidos por expectativas de retornos rápidos, o capital paciente desafia esse imediatismo ao priorizar o potencial de crescimento geral de uma empresa em detrimento de ganhos rápidos. Sua eficácia pode ser mais bem ilustrada por meio de sua aplicação em áreas de alto risco, como mercados emergentes e setores impulsionados pela inovação, nas quais o período de gestação para o sucesso é mais demorado.

 

A relevância mais pronunciada do capital paciente vem à tona no empreendedorismo social e no investimento de impacto. Uma vez que os empreendimentos sociais geralmente abordam desafios sociais complexos, eles exigem um compromisso financeiro que não espera retornos imediatos. Assim, o capital paciente permite que os empreendedores sociais se concentrem na tarefa, desenvolvendo o modelo de negócios e dimensionando o impacto gradualmente. Além disso, o aumento das preocupações com a sustentabilidade nos negócios exige um compromisso financeiro que valorize os retornos ambientais e sociais tanto quanto os econômicos.

 

Consequentemente, o capital paciente traz benefícios para investidores, investidas e sociedade. Para os investidores, promove a exploração de mercados até então inexplorados e setores inovadores. Dada sua visão de longo prazo, o capital paciente tem potencial para gerar retornos significativos ao longo do tempo, principalmente quando investido em inovações disruptivas que demoram mais para amadurecer, mas que possuem potencial para revolucionar setores inteiros.

 

Para as investidas, o capital paciente traz a vantagem da estabilidade. Ter a garantia de suporte financeiro permite que as empresas se concentrem em estratégias de longo prazo, como pesquisa e desenvolvimento, e construam um modelo de negócios sustentável sem a pressão de entregar retornos imediatos aos investidores. Por conseguinte, essa estabilidade incentiva ainda mais a criatividade e a inovação, impulsionadores cruciais do crescimento no atual cenário competitivo de negócios. Ademais, permite ainda que as empresas sobrevivam em períodos de crise, ao promover a perenidade de suas atividades e impactos socioambientais decorrentes.

 

Nos últimos anos, o capital paciente tem recebido cada vez mais reconhecimento por seu potencial em impulsionar o desenvolvimento econômico sustentável. Várias iniciativas, sendo o programa de capital paciente do British Business Bank do Reino Unido um deles, ilustram o crescente apoio institucional a essa abordagem financeira. Como filosofia de investimento, o capital paciente também se alinha com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas, particularmente na promoção da industrialização sustentável e no fomento à inovação. No Brasil, tem-se o exemplo da Sitawi promovendo diálogo com seus investidores para reestruturar empréstimos, quando adequou os fluxos de pagamentos à realidade de caixa pós-pandemia.

 

No entanto, o capital paciente tem seus desafios. O fator de risco neste tipo de capital é inerentemente maior devido à sua natureza de longo prazo e foco em mercados ou tecnologias não comprovadas. Por isso, os investidores precisam ter um conhecimento profundo dos setores em que investem e estarem dispostos a arcar com possíveis perdas. Além disso, medir o sucesso de investimentos de capital paciente pode ser complexo, pois envolve avaliar os impactos sociais e ambientais juntamente com os retornos financeiros.

 

Em síntese, o capital paciente representa uma mudança transformadora no cenário de investimentos, afastando-se do curto prazo que muitas vezes prevalece no capitalismo convencional. Embora apresente desafios, os seus benefícios destacam o seu potencial de ser uma ferramenta poderosa para promover a inovação e impulsionar o desenvolvimento sustentável. Ao encorajar uma perspectiva de longo prazo sobre os investimentos, o capital paciente pode desempenhar um papel crítico na formação de um futuro econômico mais sustentável e inclusivo e seu sucesso passa por reconhecer e medir outros retornos que não são apenas financeiros: o impacto na sociedade.

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

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