Uma empresa é feita de pessoas, relações e processos. Sem o relacionamento entre as pessoas, não é possível criar os processos necessários para o andamento de uma empresa.
Na maioria das empresas, as pessoas se organizam por meio de uma estrutura organizacional, que estabelece as relações entre a liderança e suas equipes e, como as equipes respondem a seus líderes e buscam reconhecimento deles, é essencial ter a alta liderança comprometida com a agenda de sustentabilidade da companhia. Sustentabilidade demanda investimento de tempo, de recursos e de estudos, dessa forma, quando apoiada pelos líderes, ganha prioridade. Líderes são agentes de transformação e mudança, portanto são peça-chave no direcionamento da empresa para a sustentabilidade.
Em algumas empresas, o CEO já tem a visão de que a sustentabilidade cria valor para o negócio e já se compromete pessoalmente, de forma tão natural com o tema que consegue inspirar os outros, fazendo com que os colaboradores enxerguem a estratégia de sustentabilidade como umas das principais para o sucesso da empresa. Um exemplo muito conhecido é o do Fabio Barbosa, ex-presidente do antigo Banco Real e atual conselheiro da Natura e Itaú Unibanco, que fez com que as práticas de sustentabilidade do Banco Real, integradas ao negócio, fossem reconhecidas nacional e internacionalmente, se tornando em estudo da Harvard e recebendo diversos prêmios relacionados à sustentabilidade, incluindo o de banco mais sustentável do mundo, em 2008, pelo Financial Times.
Líderes de empresas sustentáveis geralmente tem visão de longo prazo e maior tolerância a riscos, diferente daqueles que tem visão de curto prazo e que ignoram os interesses alheios ao negócio e voltados ao enriquecimento pessoal. Mas como engajar a liderança que ainda não é comprometida com o tema? Uma das formas é mostrar a eles como a sustentabilidade gera valor compartilhado, ou seja, tanto para os stakeholders quanto para a empresa, trazendo maior reputação e poder de preço, melhoria da eficiência operacional, eficiência no uso de recursos, otimização da cadeia de valor, maior capacidade de atrair, reter e motivar talentos, maior produtividade, capacidade para explorar novos mercados, redução de riscos e maior acesso a financiadores.
Uma forma tangível de convencer a liderança pode ser a aplicação do S- ROI (Retorno sobre Investimentos de Projetos de Sustentabilidade), que mede o retorno efetivo financeiro de uma prática específica de ESG para o negócio e pode ser calculado pela estimativa dos fluxos de caixa do projeto, durante a sua vida econômica, considerando uma taxa de retorno para se chegar ao Valor Presente Líquido (VPL), que, quando maior que zero, sinaliza a rentabilidade do projeto.
Assim como o envolvimento da liderança é essencial para a sustentabilidade, o engajamento dos colaboradores também é imprescindível para o bom andamento da Agenda ESG de uma companhia, uma vez que a empresa é feita de pessoas e que a implementação da estratégia de sustentabilidade exige mudança de comportamento pessoal. O colaborador precisa compreender que a sustentabilidade pode trazer benefícios para ele e para a empresa, além de entender qual será o seu papel nessa transformação. Desta forma, ele estará engajado e consequentemente mais produtivo e disposto a contribuir com os objetivos da companhia.
O engajamento das pessoas para a sustentabilidade envolve a comunicação do impacto da contribuição de cada colaborador, articulação do trabalho dos colaboradores com os objetivos do ESG e a facilitação da comunicação e compartilhamento de ideias entre as áreas.
A comunicação do impacto da contribuição de cada colaborador pode ser realizada concomitantemente com a educação dos colaboradores para a sustentabilidade. Primeiramente, é importante capacitar os colaboradores para que entendam sobre sustentabilidade, tanto em sua vida profissional, quanto pessoal. Em seguida, é essencial fazer a correlação da sustentabilidade com a estratégia do negócio, mostrando como ela é transversal a todas as áreas da companhia e, portanto, depende da participação de todos para o seu bom desempenho. A comunicação sobre sustentabilidade deve ser constante e transparente, mostrando os resultados alcançados, os caminhos que ainda faltam ser percorridos e o papel de cada área e cada colaborador para o seu desempenho.
Os objetivos de sustentabilidade a serem alcançados devem ser claros e o ideal é que tenham metas alcançáveis de curto, médio e longo prazo, para que seja possível enxergar a trajetória a ser percorrida pela empresa. Com base nesses objetivos, é possível vincular cada um deles com os objetivos de cada área e individuais de cada colaborador, mostrando como o trabalho de cada um se relaciona com a Agenda ESG da empresa. Ultimamente, tem sido prática de muitas empresas atrelar a participação nos lucros e o bônus dos executivos às metas ESG da companhia, garantindo maior alinhamento e engajamento do público interno.
O engajamento também vem da promoção de momentos de discussão e compartilhamento de ideias sobre sustentabilidade entre os colaboradores da companhia e com outras empresas. Muitos temas ainda são novos e todos os dias surgem ou se tornam conhecidas novas tecnologias ou processos de produção que precisam ser compartilhados, para que se possa discutir o melhor caminho a percorrer olhando para as diversas esferas de uma empresa. Sendo assim, outra prática comum é a criação de um Comitê ESG formado por representantes de cada área da empresa para discutir a agenda estratégica e a criação de Grupos de Trabalho que fomentam o comitê de informações e seguem com a parte de execução dos projetos e processos. É comum também a discussão de temas de sustentabilidade com outras empresas por meio de redes multissetoriais, como o Pacto Global e o CEBDs (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável), e setoriais, como grupos específicos de ESG criados em conselhos setoriais. O simples benchmarking também é muito bem-vindo nesse caso.
Por fim, é imprescindível que os colaboradores tenham confiança no processo. A confiança aumenta quando as pessoas percebem que fazem parte de um esforço coletivo para gerar valor aos stakeholders, de uma forma que contribua para um mundo melhor. Desta forma, o trabalho tem um propósito e as pessoas se tornam mais engajadas e produtivas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
ECCLES, R. G.; PERKINS, K. M.; SERAFEIM, G. How to Become a Sustainable Company. Mit Sloan Management Review, 2012.