A influência dos processos mentais na tomada de decisão

No filme norte-americano “The Big Short”, baseado em fatos reais, o personagem principal, Michael Burry, gestor de seu próprio fundo de investimento (Scion Capital), com grande capacidade analítica e de tomada de decisão, resolve apostar contra o mercado imobiliário americano a partir do momento que começa a perceber, após realizar alguns estudos sobre o incentivo à cessão de crédito imobiliário realizado pelo FED (Banco Central Americano) e o governo americano, que uma grande bolha se formava na economia americana. Tendo em vista a realidade de Michael Burry, mesmo com a ocorrência de alguns revesses (perdas) no início, porém com grande retorno financeiro no final, tal fato retrata um caso que expressa uma tomada de decisão pelo mesmo de grande impacto, já que a interpretação sobre o mercado financeiro é muito complexa devido a diversas variáveis financeiras. Ademais, é preciso salientar que a ciência atual ainda carece de informações a respeito desse assunto.

 

Em primeiro lugar, faz-se necessário mencionar a teoria das finanças comportamentais em situações de tomada de decisões, na qual Kahneman e Tversky (1979), após experimentos científicos, fundamentaram as finanças comportamentais e as confrontaram com o paradigma da teoria financeira tradicional. Nesses experimentos, realizou-se a implementação da psicologia ou de processos mentais como fator principal no momento de tomada de decisão dos indivíduos. Em outras palavras, as decisões dos investidores são consideravelmente afetadas por questões psicológicas.

 

Em segundo lugar, ressalta-se que há, na sociedade, uma evidente propensão do indivíduo de distorcer a identificação e a percepção dos fatos, nos quais a racionalidade imposta pela teoria financeira tradicional pode não ser observada. Nesse sentido, torna-se pertinente referenciar os estudos de Thaler (1980), uma vez que este demonstrou, a partir de seus experimentos, que a aversão às perdas se apresenta como um dos principais fatores que confronta a teoria tradicional de finanças com a das finanças comportamentais, onde as perdas possuem mais peso que os ganhos durante a mudança de valor de um determinado ativo. Dessa forma, infere-se que as movimentações no mercado financeiro são correlacionadas com informações e processos mentais, demonstrando que o ser humano não é 100% racional em suas tomadas de decisão.

 

Portanto, tomadas de decisões são difíceis devido à complexidade das dificuldades de autocontrole. Por exemplo, Michael Burry, mesmo tendo perdas no início, prosseguiu com as suas convicções. A maioria dos indivíduos não consegue interpretar e/ou compreender o mercado e desistem tão logo quando começam a perder, tendo em vista a forte aversão às perdas como se verificou dos trabalhos de Thaler apontados anteriormente. Além disso, a quebra do mercado imobiliário, tal como retrata no filme, revela que os órgãos reguladores e o governo têm grande influência no comportamento tanto da economia quanto dos investidores. Assim, cada decisão de uma das partes tem a possibilidade de mover o mercado em direções diferentes e confrontar com diversas interpretações de mercados, o qual também é influenciado pelos processos mentais dos indivíduos atuantes nesse contexto.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

THALER, Richard. Toward a positive theory of consumer choice, Journal of Economic Behavior & Organization, v.1, n.1, p. 39-60, 1980.

 

KAHNEMAN, Daniel; TVERSKY, Amos. Prospect Theory: An Analysis of Decision under Risk, Econometrica, v. 47, n. 2, p. 263-91, 1979.