A Tecnologia Será Ruim para Relação Saúde-Paciente?

Há pouco tempo eu havia lido um artigo intitulado “A Inteligência Artificial vai Restaurar o Humanismo na Medicina.” Você que é médico, profissional de saúde ou acadêmico tem certa obrigação de ler ele, pois de fato irá mudar sua percepção sobre essa temática.

 

O artigo é muito abrangente e traz referências importantes como da Mckinsey, uma consultoria renomadíssima, com citações que, de fato, serão de alguma maneira relevantes para sua carreira. Outra leitura complementar, desta vez publicada pela Saúde Business, é o artigo ‘’IA e a Destruição Criativa da Saúde’’.

 

Mas, para os ilustres alunos do BBI, vou fazer um apanhado geral desses dois artigos e tratar dos seguintes pontos:

 

  • Qual é o impacto das inteligências artificiais (IA’s) na saúde?
  • A inteligência artificial será o novo estetoscópio?
  • Erros médicos.
  • A IA como fator de diferenciação da teleconsulta.

 

1. Qual é o Impacto da IA na Saúde?

 

Aqui, estamos todos vacinados quanto às mudanças comportamentais, certo? Que a saúde está sendo entremeada pelo digital, você já sabe, é redundante.

 

Existe uma frase que é incrível “IA possibilita que tiremos o robô de dentro dos médicos e profissionais de saúde”, perceba que forte isso! Para quem não pegou: quantas vezes você fez uma atividade, como infinitas prescrições/solicitações, no conforto da repetição mental automática?

 

Como um robô, porém menos produtivo às custas do seu ATP.

 

Todas as habilidades que são repetitivas e técnicas serão substituídas por máquinas. Ainda bem, não é mesmo? Nos resta o foco cirúrgico em torno do nosso lado humano para se reforçar, para promover saúde de verdade (com humanidade).

 

Se antes eram gastos 15 minutos para ver certo exame, agora são 2 minutos com uma forcinha de IA diagnosticando mais completamente, mais rápido e com maior complexidade. Nos sobra, naquele resto de tempo, ser mais humano e mais conectado com o paciente.

 

2. A inteligência artificial será o novo estetoscópio?

 

René Laennec, inventor do estetoscópio, foi ridicularizado por sua invenção e seu uso foi desprezado. Hoje, é o pilar do exame físico, o símbolo da inovação tecnológica centrada no paciente.

 

Sempre estudamos e praticamos saúde voltada a dados e estudos populacionais, porque nunca tivemos recursos para personalizar a abordagem. Com a tecnologia, é possível personalizar para humanizar:

 

O que é bom para o seu gene?

Para o seu receptor?

Como seria sua resposta individual a certa medicação?

Qual seria a sua reação adversa?

 

Nesse sentido, gosto citar um TED Talk de 2018. Mariana Perroni, que foi a primeira médica a ser contratada pela unidade Watson Health na América Latina, complementa a temática de como a IA pode humanizar a prática médica.

 

Nosso corpo tem um potencial tão grande para gerar dados, que somos capazes de preencher memórias de vários iPads e enfileirá-los a ponto de dar voltas no mundo. Apenas uma analogia sobre o potencial de geração dados que nosso corpo pode trazer para a prática clínica, corroborando no diagnóstico e tratamento.

 

Entram em cena tecnologias como wearables, que usamos hoje naturalmente em formatos mais simples, através de produtos como o Apple Watch.

 

3. A Saúde Continuada

 

Através da tecnologia, podemos praticar uma saúde contínua, até preditiva. Por que contínua?

 

O paciente pode receber saúde em um momento de consulta (1) ao mesmo tempo que pode fornecer dados por meio de wearables para sistemas em nuvem da sua equipe de saúde (2), extrapolando o estigma de que saúde era feita majoritariamente em serviços de saúde (3).

 

Anote aí: “Phygital”, a junção de physical (físico) e digital (online). É o mais novo termo para compreendermos a nova jornada do paciente. Uma jornada de relacionamento que funde dois mundos, digital e off-line, uma experiência única.

 

Em outras palavras, você precisa mesclar as formas de abordagem digitais e físicas para fazer uma experiência memorável para seu paciente, a fim de se destacar no mercado e fazer a sua melhor promoção de saúde.

 

E a IA com tudo isso? Ela pode estar presente em algum ponto dessa jornada, possibilitando toda a descrição que fiz acima acontecer e maximizando a sua prática de conforto, alívio e cura.

 

4. Uma Saúde mais assertiva

 

O erro humano pode até ser usado como uma crítica a nossos serviços de saúde, porque talvez nós estejamos de “olhos vendados”.

 

Na faculdade, nós somos exauridos financeiramente. Quando formamos, (como consequência) elevamos nosso custo de vida com gastos para desfrutar dos poucos momentos restantes na árdua rotina de plantões.

 

É a receita para entrar na “corrida de rato” para manter um padrão de vida que não corresponde à sua realidade, para agradar e manter status para pessoas que mal conhece.

 

O que isso tem a ver com a temática? Erro. O cansaço, a rotina insana e automática nos leva a cometer erros em um ambiente onde lidamos com a vida e a morte de outros seres humanos.

 

Será que esse número não poderia ser impactado por decisões e funções que máquinas poderiam assumir para deixar o lado mais humano e altamente especializado com a gente? Então, mais um ponto positivo para a tecnologia.

 

Quanto às suas escolhas e decisões financeiras, fica a deixa de você rever o que de fato é importante, qual estilo de vida você quer ter e qual é seu objetivo, prioridades.

 

5. A IA como fator de diferenciação da sua teleconsulta

 

Percebo e tento trabalhar sempre no ponto de resistência que a área da saúde enfrenta perante tecnologias e mudanças de um modo geral, como tem sido com a teleconsulta.

 

Gosto sempre de citar a TME e nosso telediagnóstico em cardiologia. Antes, cardiologistas precisavam laudar os exames por eles requeridos e, hoje, nós facilitamos a rotina deles. É como se disséssemos: “Vai atender e tratar o paciente. Vai focar no que você é bom e deixa a gente fazer o trabalho difícil”. Algo só permitido pela tecnologia.

 

Mas e a teleconsulta com tudo isso? Vamos lá, quero deixar uma deixa para os anos que virão:

 

A teleconsulta já não é mais novidade, é commodity. Agora, todo mundo tem, todo mundo quer e, mais cedo ou mais tarde, a maioria vai aderir. É aí que entra o telemonitoramento e a possibilidade de estratégia de diferenciação.

 

Imagine oferecer para um paciente as opções de consulta física (1), teleconsulta (2) e telemonitoramento (3), provendo um cuidado contínuo. Além de uma linha de receita a mais, uma linha de cuidado amplo “Phygital”, você eleva a sua experiência de forma única.

 

A Inteligência Artificial entra aí porque alguns telemonitoramentos tem por base essa tecnologia. Não é a realidade de “mortais”, da maioria, mas quem imaginaria que faríamos ligação de graça e teriamos outras funcionalidades que o WhatsApp tem há 20, 30 anos atrás?

 

Esteja atento, antecipe movimentos para sua estratégia de diferenciação no mercado.

 

6. Um novo Olhar para o Cuidado

 

Então, só para revisar: o aspecto comportamental permite muito que a área inteira da saúde e da medicina sejam mais humanas, mais conectadas. Podemos ter mais tempo para sermos médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e todos os outros heróis que promovem saúde.

 

Para quem não conhece, a IA tem quatro níveis:

  1. A inteligência artificial identifica algo, pode identificar algo.
  2. Ela pode gerar insight, correlação.
  3. Ela pode fazer previsões, prever cenários.
  4. Ela pode prescrever condutas.

 

Em linhas gerais, podemos terceirizar aquelas tarefas ridículas, chatas, ganhar produtividade e saúde mental. Pare um segundo e reflita sobre o significado de tudo isso.

 

O cuidado nos hospitais, a saúde em si, está muito desumanizada, e o artigo aborda muito bem isso. A resposta robótica dos médicos, então, nem se fala. Quem nunca foi consultar um médico que mal olhou na cara, chegou atrasado e não liga muito para esses detalhes? Tudo isso FISICAMENTE.

 

Então, o cuidado e a humanização necessariamente estão vinculados estritamente ao contato e ao profissional humano? Será que é a única forma de agregar valor?

 

7. Inovação ou ostracismo, a escolha está em suas mãos.

 

A saúde está se digitalizando, se transformando de modo unidirecional. Ou seja, independe da sua escolha de acompanhá-la. Mas como você é acima da média por estar aqui, eu tenho certeza de que você se atentará a esses aspectos.

 

Então, vou te deixar a reflexão final que aprendi com a Martha Gabriel e sempre levo em minhas palestras. Essa provocação é para você que tem medo da substituição pela IA/tecnologia.

 

O escopo de todo o MBA é pautado na dinâmica do Fórum Econômico Mundial e no relatório de futuro do trabalho, que nos aponta o quão fundamental é aprendermos como pensar, como resolver problemas, como ser cada vez mais humanos, criativos, líderes.

 

Ah! Já ia me esquecendo…

Se você não quiser ser substituído por um robô (rufem os tambores):

Não atenda seu paciente como um!

Seja humano com seu paciente.