O objetivo deste artigo é apresentar ao leitor uma perspectiva sobre como criar uma cultura orientada para dados.
Gostaria de partir da premissa de que, independentemente do tamanho da empresa, todos os dias as pessoas precisam tomar decisões sobre como operar o negócio. Por exemplo, uma cadeia de restaurantes precisa decidir quantos ingredientes serão necessários para atender a demanda da semana ou do dia. Outro exemplo é uma grande empresa de bens de consumo, que precisa tomar decisões que vão desde qual preço é ideal para não perder participação de mercado para a concorrência, até se o crescimento de 2% em participação de mercado poderá impactar a capacidade da fábrica em atender o volume de crescimento. Os dois exemplos acima ilustram algumas situações cotidianas de empresas e organizações pelo mundo.
Ou seja, tomar decisões é uma atividade intrínseca à gestão operacional de uma empresa, e uma reflexão sobre o processo de tomada de decisões revela que elas têm impacto, seja ele positivo ou negativo. Decidir expandir receita ou demanda sem estar preparado para atender, ou comprar mais produtos do que o necessário, gerando desperdício, pode provocar aumento de gastos, perda de competitividade e redução da lucratividade, além de perda do prestígio da marca.
Todos os anos, grandes empresas do mercado aumentam seus investimentos em projetos de dados e IA. De acordo com uma pesquisa realizada pela empresa NewVantage Partners, 84% dos 116 líderes de dados das maiores empresas listadas na Fortune pretendem aumentar o investimento em iniciativas de Dados & IA. A pesquisa também aponta que 80% dos desafios para o sucesso dessas iniciativas estão atrelados à cultura, processos, pessoas e organização. Portanto, podemos concluir que a tecnologia é apenas uma pequena parte do que é necessário para as empresas prosperarem e obterem vantagem competitiva com os dados.
Para criar uma cultura de dados, é necessário ir além do investimento em tecnologia e pessoas especializadas. É essencial que todos os envolvidos nos processos de tomada de decisão estejam engajados e suas equipes capacitadas para extrair o valor máximo dos dados. Para ter sucesso na criação dessa cultura de dados, gostaria de destacar os seguintes temas:
Qualidade de Dados:
Não ter disciplina ou comprometimento com a qualidade dos dados, tornará essa jornada mais desafiadora. Uma pessoa envolvida no processo de decisão não tomará decisões ou fará recomendações baseadas em algoritmos se não confiar nos dados apresentados nos relatórios. Portanto, cuidar da qualidade dos dados desde os sistemas de origem é primordial para o sucesso.
Além de cuidar da qualidade na origem, também devemos criar um processo de curadoria dos dados. O processo de curar os dados envolve ter pessoas e ferramentas para garantir que os dados recebam feedbacks constantes sobre sua qualidade e usabilidade. Nem sempre a origem dos dados é dos sistemas operacionais; eles podem vir de parceiros, máquinas (IoT), terceiros, marketplaces de dados e governo. Então, ter pessoas, processos e tecnologia para a curadoria dos dados acelerará a jornada para uma cultura orientada por dados.
Governança de Dados:
A governança de dados deve ser leve e adequada para a empresa. Um ponto muito importante em governança de dados é o papel de todos os funcionários envolvidos no processo. Se a empresa definir donos ou responsáveis pelos dados e indicadores, e essas pessoas forem da operação, estiverem empoderadas e capacitadas para serem donas dos dados, como definir regras de negócio e como um indicador é medido, a boa prática é deixar a área ou departamento responsável pela cadeia de valor que toma decisões ser os donos dos dados. Nesse caso, o papel do departamento de tecnologia é garantir que o desenvolvimento e processamento desses dados estejam de acordo com a definição dos donos dos dados.
Colaboração de Todos os Envolvidos na Organização:
A colaboração em todos os níveis da organização é fundamental para uma empresa que busca ser orientada a dados. Os dados são de responsabilidade de todos, e para ter um relatório ou recomendação por algoritmo (IA) mais assertivos, é preciso que todos os atores, desde a operação (que opera o sistema transacional), passando pela tecnologia e pelos departamentos que tomam decisões, atuem de forma colaborativa.
Capacitação:
Investir em treinamentos e na criação de fóruns e comunidades é primordial para a empresa. Talentos em dados não estão apenas nas faculdades ou nos departamentos de tecnologia; investir na capacitação de toda a empresa em como usar os dados será uma forma benéfica de acelerar a jornada para uma organização orientada para dados.
Cultura de Experimentação:
A cultura de experimentação nas organizações é essencial, particularmente no contexto de testes A/B. Essa técnica é um aspecto fundamental da tomada de decisões orientadas por dados, pois permite definir hipóteses através dos dados e comparar duas versões de uma variável, produto ou serviço para determinar qual delas é mais eficaz. Geralmente, uma versão é a atual (controle) e a outra contém alguma alteração (tratamento). O desempenho de cada versão é então medido e analisado estatisticamente para determinar qual é mais eficaz em alcançar um determinado objetivo, como cliques, conversões, vendas etc. Essa técnica auxilia na cultura organizacional e reflete um compromisso com a tomada de decisão baseada em evidências. As organizações que adotam essa abordagem incentivam a inovação contínua e a melhoria baseada em dados objetivos, ao invés de suposições ou intuições. No teste A/B, um grupo de usuários é exposto à versão A, enquanto outro grupo vê a versão B. Isso habilita a cultura de aprendizado contínuo e, ao experimentar constantemente, permite às organizações aprenderem continuamente sobre seus clientes e mercados, levando a melhorias incrementais e inovação constante.
Portanto, a tomada de decisões baseada em dados é essencial para o crescimento e a eficiência das empresas. Investir em tecnologia para habilitar as capacidades de processar dados e IA é crucial, mas o verdadeiro sucesso emerge de uma cultura organizacional forte, que valoriza a qualidade dos dados, a governança adequada, a colaboração entre departamentos e a capacitação contínua dos colaboradores. Fomentar uma cultura de experimentação, como os testes A/B, permite a inovação e o aprendizado contínuos, que são essenciais para a evolução orientada por dados no ambiente corporativo
REFERÊNCIAS
DAVENPORT, T.; BEAN, R. Delivering Business Value from Data and Analytics Investments With a Foreword EXECUTIVE SUMMARY OF FINDINGS DATA AND ANALYTICS LEADERSHIP ANNUAL EXECUTIVE SURVEY 2023 Special Report. [s.l: s.n.]. Disponível em: <https://www.newvantage.com/_files/ugd/e5361a_247885043758499ba090f7a5f510cf7c.pdf>.
