Do pensamento à cocri(ação): desafios e oportunidades na implementação do planejamento estratégico em pequenas empresas

Do pensamento à cocri(ação): desafios e oportunidades na implementação do planejamento estratégico em pequenas empresas

Estima-se que 60% das empresas fecham antes de completar o quinto ano de atividade e que um dos principais motivos é a falta de um planejamento estratégico. Grandes empresas tendem a ter maior acesso a informações e equipes especializadas para a concepção de um bom modelo estratégico, todavia, as empresas de pequeno porte, principalmente as de estrutura familiar, ainda enfrentam desafios nesse processo (CESARINO & SUDO, 2011).

 

Organizações familiares, em sua maioria, apresentam um número reduzido de níveis hierárquicos e de atividades de suporte, o que torna sua estrutura concentrada na pessoa do proprietário. Essa centralização do poder e o excesso de tarefas operacionais no dia a dia do gestor levam a uma sobrecarga de funções, restando pouco tempo para planejar. E, ainda que o gestor perceba a necessidade de mudanças para que a empresa se mantenha competitiva no mercado, pode enfrentar resistência por parte dos funcionários, os quais muitas vezes são parentes, habituados a fazer o trabalho sempre da mesma forma (CESARINO & SUDO, 2011).

 

Essa conduta é compreendida por Kahneman (2018), teórico da economia comportamental, como “lei do menor esforço”: à medida que você se especializa numa tarefa, a demanda de energia cerebral diminui. Assim, ainda que haja vários caminhos para se atingir um mesmo objetivo, as pessoas acabarão por agir da forma que exija menos esforço mental e físico de sua parte, daí a resistência para as mudanças.

 

Em vista disso, Sousa e Dias (2017) destacam a importância do pensamento estratégico para a implementação do planejamento estratégico. Segundo os autores, o planejamento estratégico por si raramente permite a criação de estratégias inovadoras com a participação apenas do dirigente principal da empresa. O pensamento estratégico, no entanto, vem tornar o planejamento estratégico mais dinâmico, abrindo espaço para a intuição, a criatividade e a inovação, com a participação das pessoas em todos os níveis de decisão.

 

Se por um lado as pequenas empresas, na posição do gestor, se deparam com desafios em implementar um planejamento estratégico, por outro lado, as relações mais horizontais entre as pessoas são campo fértil para desenvolver o pensamento estratégico. A conexão mais próxima entre os colaboradores pode ser uma oportunidade para a cocriação de ideias conjuntas e de soluções mais criativas para os problemas internos e externos enfrentados por essas empresas.

 

Não por acaso, muitas empresas começaram a adotar estratégias baseadas em design nos últimos anos, não somente no desenvolvimento de produtos e serviços, mas também no gerenciamento dos negócios, tais como a abordagem do design thinking. Estruturado em etapas bem estabelecidas, o design thinking, enquanto ferramenta para o pensamento estratégico, permite imaginar cenários e testar alternativas para os problemas. Para isso, Reche & Janissek-Muniz (2018) destacam que é essencial a contribuição do material humano, isto é, de todas as pessoas envolvidas nos processos e que são necessárias para o resultado final.

 

Em um cenário econômico cada vez mais criativo e compartilhado, tão importante quanto os números e projeções do planejamento estratégico para a longevidade das pequenas empresas no mercado está o pensar de forma estratégica, valorizando saberes de todos os atores e integrando as experiências das pessoas que são, de fato, os alicerces das organizações.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

CESARINO, L. O., SUDO, B. T. O desafio da implantação de um plano estratégico em uma microempresa familiar do setor alimentício. Revista Gestão e Desenvolvimento. v. 8, n. 1, p. 61-71, 2011.

 

KAHNEMAN, D. Rápido e devagar: duas formas de pensar. Rio de Janeiro: Objetiva, 2018.

 

RECHE, M. M., JANISSEK-MUNIZ, R. Inteligência estratégica e design thinking: conceitos complementares, sequenciais e recorrentes para estratégia inovativa. Future Studies Research Journal: Trends and Strategies. v. 10, n.1, p. 82-108, 2018.

 

SOUSA, J. C.; DIAS, P. H. R. C. Integração do planejamento estratégico ao pensamento estratégico. Revista de Ciências da Administração. v. 19, n. 47, p. 3044, 2017.

 

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