Em uma manhã de março de 2020, após uma semana de fatos que pegaram a todos nós, como sociedade, como se houvesse sido deflagrada uma nova “guerra” mundial, eu me vi imobilizado e sem forças para levar os negócios da minha empresa a frente.
O mercado estava completamente estagnado, não se falava de outra coisa a não ser dos estragos causados pela pandemia da Covid-19 e da falta de visão do que estava por vir. Eram incertezas, ou melhor, uma única certeza: as economias iriam se fechar e não se sabia por quanto tempo. E agora?
Essa era a pergunta que eu me fazia e resolvi fazer aos grandes executivos com quem mantinha relações em aproximadamente 20 das maiores empresas de diversos setores e indústrias do Brasil. Precisava me preparar para entrevistar estes líderes de corporações e organizações que, assim como eu, foram pegos de surpresa e se viam em maus lençóis para tocar suas estruturas e processos, dentro do olho do furacão da maior crise sanitária dos últimos 100 anos.
Neste cenário, parecia que não havíamos aprendido muita coisa com as últimas grandes crises, ou melhor, se negava que esta era uma situação muito próxima de uma guerra com a diferença que não se sabia ao certo quem era o verdadeiro inimigo. Além do mais, tendo como premissa e valor máximo a importância de se salvar vidas, parecia que falar em salvar Organizações não seria bem recebido, melhor dizendo, seria descabido.
Mas eu continuava com a pergunta rondando meus pensamentos: e agora? E outras mais vinham sobressaltando minha cabeça que não parava de pensar que um dia isso tudo iria passar e as organizações precisavam olhar para frente, olhar para o futuro, entender o que seria mais importante e o que mudaria… precisavam entender suas forças, suas fraquezas, os desafios, as oportunidades, enfim, qual seriam as novas diretrizes estratégicas que as guiariam em um novo normal, que ainda não se tinha a menor ideia de como seria, com o que seria, com quem seria, quando seria e para onde seria.
E agora?
Precisava tomar coragem e encarar as lideranças das grandes organizações, porque eram fundamentais para entender como ficaria para as pequenas e médias, como era o caso da minha microempresa de prestação de serviços de consultoria.
Foi justamente ao contrário que pude perceber o valor desta pergunta. O “E agora?” para os pequenos empreendedores, como eu, era muito mais impactante, mas ao mesmo tempo menos doloroso. Tínhamos estruturas muito menores, tínhamos mais resiliência e flexibilidade para mudarmos, ou melhor, para fazermos transformações que poderiam ser o marco do recomeço e da reestruturação dos mercados tão abalados.
De certa forma, eu estava um pouco enganado pois o fator tempo para essas transformações também era fundamental. Quanto mais o tempo passava e as finanças ficavam negativas, maiores eram os números de empresas que não aguentavam as incertezas e impactos nos negócios.
Nunca se viu um cenário tão negativo e desesperançoso como naquele momento. E agora? Claro, as grandes organizações, corporações e instituições seriam a alavanca de que precisávamos para suportar um período que não se sabia ao certo e dar condições para que se pensasse nos planos de recuperação do futuro, tanto para os Governos como para as economias que estavam muito debilitadas.
Entrevistei mais de 30 executivos e lideranças que estavam cegos, só conseguindo olhar para o curto prazo. Era uma visão errônea, mas de sobrevivência, e não me parecia errado naquele momento. Era preciso entender as culturas de cada organização, seus modelos de funcionamento e suas culturas organizacionais, que acabavam por ditar os comportamentos organizacionais daquele momento sem igual para nossa sociedade contemporânea.
Nada estava dominado plenamente! Os processos precisavam ser revistos, pois o que mais importava era controlar melhor os custos. Os riscos eram muitos e estavam descontrolados. O que se anunciava era uma situação de crise imensurável e jamais vista. Eureca! Era preciso instalar imediatamente os processos de gerenciamento de crises em todos os níveis e setores! E assim foi feito. As empresas esqueceram a visão de futuro, as cidades e governos idem. Era preciso reestabelecer a vida e para isso eram necessários os protocolos e procedimentos para o gerenciamento das crises e, ao mesmo tempo, evitar que outros riscos se configurassem como novas crises. Era uma terra fértil de aprendizados e oportunidades para voltarmos a olhar melhor para setores como a saúde, a educação, o meio ambiente e as relações humanas e de mercado.
O tempo passou, os traumas e aprendizagens foram muitos. Muitas organizações sucumbiram, outras diminuíram de tamanho para se acomodarem ao novo mercado, e outras nasceram ou renasceram. Como explicar isso? Qual o grande diferencial?
Acredito que ainda há muito para vivermos e experimentarmos até termos as melhores respostas e lições de aprendizagem, mas uma coisa eu posso afirmar como experiência própria. As que conseguiram se restabelecer mais rapidamente, ou até cresceram, não pouparam esforços de fazerem exercícios de cenários futuros para responder não só o “E agora?”, mas também o “E quando acontecer novamente no futuro?” e “Como me preparar para o novo normal?”.
Claro que faz parte do DNA do empreendedor se preparar para superar desafios cada vez maiores e renascer de cada queda. Isso é, com certeza, muito importante! Contudo, o pensamento estratégico, o olhar além da pandemia, se sustentando nos valores, na missão e na visão de suas organizações fez a diferença nesses novos dias que se apresentam após 2 anos. Para muitos, o ano de 2022 é o ano de estruturar e planejar a recuperação para os próximos anos. Para outros e poucos visionários é hora de colher o fruto, pois definiram suas diretrizes durante a grande crise e agora começam a colocar seus planos em ação.
E agora?
Esta conscientização de antecipação e preparação, estruturada e processual, poupa tempo e gastos exagerados para remediar ao invés de já ter o solo da recuperação semeado durante as crises, o que pode ser o grande diferencial das organizações que prezam não só pela continuidade da atividade presente, mas, sobretudo, para a perpetuação futura de seus negócios. Perpetuação essa que está diretamente ligada a estratégia de sustentação com base em estratégias bem definidas e compartilhadas com todos que fazem parte da cultura destas empresas.
Experiência é para ser registrada e aproveitada no futuro. Competência, eficiência e postura no gerenciamento organizacional e enfrentamento das crises precisam estar na agenda empresarial para estarmos preparados para as grandes transformações, antes que elas nos derrubem.
As recorrentes transformações e o avanço de tecnologias no cenário corporativo da atualidade tornam a gestão organizacional eficaz, ainda mais eficiente, necessária, transformadora e inovadora. Através dela se torna viável a criação de métodos e técnicas de atuação, que são capazes de garantir uma adaptação mais fácil a situações não previstas, sobrevivência e aumentar sua capacidade de competitividade, de maneira sadia, para uma empresa que quer ser relevante e ter sustentabilidade, em um ambiente que, constantemente, apresenta situações de riscos, problemas e crises.
E agora?
E agora, é fazer do limão, a limonada… e saborear com o prazer o trabalho bem-feito e planejado.
Agora é ver, acompanhar e perceber para onde os novos ventos dos mercados em transformação começam a soprar e colocar a engrenagem bem azeitada para aproveitar e crescer com as novas ideias, profissionais bem-preparados e novas oportunidades de negócio.