Mindset Ágil e Digital

Como entender e domesticar nosso dinossauro interno que impacta a real colaboração, criatividade e adaptabilidade dos times?

 

Mudança de mindset e agilidade são expressões muito usadas atualmente e há uma tendência que aumente ainda mais sua importância, visto que não há um consenso se estamos na Era das Mudanças ou se temos, na verdade, algo ainda mais disruptivo, que é uma mudança de Era.

 

Segundo um estudo bastante conhecido do Fórum Econômico Mundial, 65% das crianças de hoje atuarão em atividades que ainda não existem. Unindo esse estudo ao conteúdo do livro Organizações Exponenciais, há um consenso que a adaptabilidade e a criatividade estão entre as habilidades mais importantes daqui para frente, visando manter nossa relevância e não entrar na lista de ocupações que estão sendo automatizadas.

 

Nosso grande desafio é sair do discurso para a prática, pois uma das principais barreiras é a nossa estrutura cerebral que sempre prioriza reações automáticas e imediatas, com base em nosso instinto animal irracional, quando interpreta que algo coloca em risco nossa sobrevivência.

 

Há 3 anos, iniciei uma jornada multidisciplinar usando Lean, práticas do mundo ágil e DevOps, que me deixaram bastante surpreso com tanta novidade simultânea e a reação natural do meu cérebro foi medo da mudança. Penso que, se não fosse o apoio genuíno dos líderes e facilitadores dessa iniciativa organizacional, concedendo tempo para digerir tanta novidade, existia uma grande possibilidade do meu pensamento ficar limitado a seguir novos rumos. Pois eu considerava que estava aplicando bem as práticas ITIL, Cobit, PMBOK, tanto na empresa, quanto em minhas atividades complementares no mercado (MBA, Graduação, Concursos, Certificação, Workshops e Palestras).

 

Falando um pouco mais da estrutura do cérebro humano, existem 3 camadas que são interdependentes e complementares:

 

  • O Neocortex é a parte racional que nos diferencia dos outros animais e representa a maior parte do cérebro. É responsável pela criatividade, imaginação, reflexão, solução de problemas etc.
  • O sistema límbico foca nas emoções e busca simplificar as decisões usando experiências similares, considerando ação, reação, gatilhos mentais etc.
  • A parte reptiliana é mais primitiva e executa ações automáticas muito importantes para nossa sobrevivência, como respiração, digestão, pressão, controle hormonal, medo etc.

 

Nessa arquitetura básica, o cérebro possui diversos mecanismos que interpretam o mundo externo e fica em alerta sempre que algo parece colocar em risco nossa sobrevivência. Quando isso ocorre, a parte reptiliana é tão rápida quanto a CPU do computador e toma conta das nossas ações, ou seja, abandonamos o lado humano e nos igualamos aos demais animais. Nessas atuações, existem 3 reações básicas: Congelar, Fugir ou Atacar.

 

Pense quantas vezes algumas das situações abaixo já ocorreram contigo ou amigos:

 

  • Uma pessoa super calma perde a estribeira em alguns momentos.
  • Uma força incontrolável faz alguém gritar com uma pessoa e se arrepender depois (Ex: filho, colaborador, chefe, melhor amigo etc).
  • Mesmo sendo injustiçado, o colaborador congela, não se defende, mas fica remoendo por muito tempo achando que não deveria ter ficado quieto.
  • Líderes e colaboradores se atacando nas organizações.
  • Após levar uma fechada, o motorista se sente injustiçado e inicia uma perseguição somente para xingar ou brigar com o outro que, muitas vezes, nem percebeu sua falha.
  • Colaborador é grosseiro com o cliente quando vem uma reclamação considerada injusta.
  • Etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc, etc.

 

Essa reação instintiva do cérebro ainda é muito útil nos momentos de perigo real, pois todo o corpo é preparado para aumentar a força física para a luta ou fuga (Ex: correr quando tem tiroteio, incêndio, ter força para separar uma briga ou se defender). Nosso organismo está preparado para priorizar toda energia possível nas pernas e braços enquanto o perigo ainda existe, mas precisa retornar o mais breve ao modo padrão, com a parte racional no comando.

 

O desequilíbrio ocorre quando nosso cérebro interpreta incorretamente que um problema intelectual deve ser resolvido da mesma forma como fazíamos na época das cavernas, o que pode criar vários problemas da vida moderna, como ansiedade, estresse e depressão.

 

Assim como um computador processa as entradas para criar as saídas, nosso comportamento funciona de forma parecida. Depois que estudei esse assunto, confesso que evito acompanhar qualquer notícia nos jornais ou TV, pois nosso cérebro sempre dá mais atenção e fica alerta aos acontecimentos mais negativos. Com base nesses inputs pessimistas, são geradas reações automáticas em nosso organismo, mesmo quando não está ocorrendo uma situação real conosco.

 

Interessante que no livro Abundância, Peter Diamandis e Steven Kotler comprovam, em várias situações, que o mundo está melhor para viver e, ainda assim, a grande maioria das pessoas tem discursos mais pessimistas. Eles citam que um dos motivos da negatividade cada vez maior é que a imprensa mundial sabe que a notícia ruim chama muito mais a atenção do nosso cérebro e costuma colocar mais de 90% do conteúdo pessimista.

 

Voltando agora para a necessidade de potencializar nossa habilidade criativa e adaptabilidade, considero que devemos contribuir diariamente para criar uma confiança genuína entre as equipes e lideranças, visando permitir que a parte racional do cérebro funcione plenamente.

 

O que não combina mais com um plano perfeito é que a previsibilidade está cada vez mais rara no mundo VUCA (Volátil, Incerto, Complexo e Ambíguo) e torna-se necessário um time criativo e disposto a errar rápido, em pequenas iniciativas, para aprender logo.

 

Conforme mencionei no início desse artigo, é importante gerar uma consciência coletiva que não será com um clique que as transformações ocorrerão nas organizações e em nós mesmos. O papel da liderança executiva é fundamental para estimular as ações diárias nesse sentido, pois o aprendizado efetivo tem ligação maior com comportamentos do que com palavras. Quem tem filhos sabe muito bem disso.

 

Vamos praticar agora um pouco de empatia: se na prática o chefe do seu chefe é muito cobrado somente por metas de curto prazo, ele tem que estar muito seguro quando um colaborador da sua equipe avisa que está aprendendo muito com os erros e deixou de fazer uma entrega. Já ensinou alguém a andar de bicicleta somente explicando os passos? É necessário ter muita confiança que os tombos fazem parte do processo para algo maior.

 

Tenho observado muita gente boa fazendo diversos cursos e certificações que ajudam nessa jornada (Ágil, Lean, DevOps, Kanban, Management 3.0, Design Thinking, Coach), porém é importante reforçar que esse é o primeiro passo e que a real mudança precisa ser praticada diariamente.

 

Vamos nessa? Gentileza gera Gentileza, Empatia gera Empatia, Colaboração gera Colaboração, Criatividade gera Criatividade, Conhecimento gera Conhecimento.