Os Impactos dos Padrões de Responsabilidade Social, Governança e Sustentabilidade no Desempenho Organizacional

A partir do advento da industrialização, os ciclos de mudanças passaram a ser cada vez mais curtos. Mediante a isso, as organizações, com a finalidade de se adaptarem e sobreviverem, passaram a adicionar um ingrediente especial à sua receita de sucesso: a inovação. Sob a ótica de Shumpeter (2003), o processo de inovação se dá de maneira incessante, com o aparecimento e o desaparecimento de algo novo no mercado (destruição criativa). Para Drucker (2002), a inovação é a forma pela qual as organizações conseguem explorar as mudanças do ambiente externo, com a finalidade de encontrar oportunidades para serviços e/ou produtos diferenciados. É através desse movimento de identificação de novas propostas, que as empresas alcançam seu diferencial competitivo (PORTER, 1990).

 

Muito mais do que apresentar novos produtos e serviços, as organizações, sejam elas pequenas ou grandes, precisam se atentar para um ponto primordial que na atualidade trouxe modificações ao status quo do ambiente corporativo. A sustentabilidade, apesar de ser um tema de bastante relevância, somente teve projeção a partir da década de 80, conforme destaca Kamiyama (2011). Nesse sentido, há anos, era comum no ambiente organizacional a utilização da inovação de maneira deliberada, sem a existência de uma consciência sustentável, ao passo que as empresas vislumbravam apenas a lucratividade em detrimento dos impactos negativos causados pelo crescimento desenfreado.

 

Na perspectiva de Sawhney (2006), uma inovação somente será relevante se esta gerar valor para seus usuários. E, para chegarem nesse patamar, as empresas estão cada vez mais incorporando ao ambiente laboral a sustentabilidade que está diretamente relacionada ao contexto futuro, ou seja, a utilização dos recursos “hoje” não pode comprometer o atendimento das necessidades do “amanhã” (PINTO et al., 2011; WCED, 1987, p. 19), como pilar para a criação de diferencial competitivo, sobremaneira, não podendo mais dissociar e nem mesmo negligenciar o pensamento de longo prazo da essência do negócio (SPITZECK, 2021; BARBIERI, CAJAZEIRA, 2009) apresentando assim, cada vez mais, um papel de responsabilidade abrangente.

 

Para Jereissati (2021), uma organização que adota práticas sustentáveis consegue atuar em todas as etapas de sua cadeia para construir, entregar e capturar valor. Mas afinal, como isso pode ser alcançado? Por meio da cultura ESG.

 

Assustado? ESG é um acrônimo dos termos em inglês Enviroment, Social and Governance. A junção dessas três letrinhas destaca o ponto de convergência para a construção da sustentabilidade corporativa (SPITZECK, 2021), sendo utilizada pela primeira vez no relatório “Who Cares Wins” em 2006. Em outras palavras, o ESG, segundo Pedroza e Lima (2021), nada mais é que um “update” da sustentabilidade sob a ótica das dimensões relacionadas às áreas econômicas, ambiental e social, comumente denominadas triple bottom line (ALMEIDA, 2002; MOURA, 2002).

 

A priori, o que uma empresa ESG faz é compreender o seu papel na sociedade, mapear seus impactos e trabalhar para mitigar os negativos e amplificar os positivos. Em suma, o ESG vem para orientar as partes interessadas (stakeholders), que de certa maneira passaram a exigir das organizações um maior comprometimento com o cumprimento das exigências relacionadas à sustentabilidade por meio da transparência, apresentação de indicadores e avaliação de seus impactos na sociedade (VAZ, 2021).

 

Segundo destaca a Exame Academy (2021), os millennials e a geração Z são peças fundamentais nessa modulação de pensamento das empresas, visto que esses apresentam bastante relevância no mercado de trabalho na atualidade. Nesse contexto, é necessário que os gestores tratem o ESG como algo primordial à sobrevivência de seus negócios, passando a implementá-lo à sua cultura, para que os benefícios perpassem os limites organizacionais e alcancem a sociedade de maneira geral, criando, assim, o verdadeiro sentido de desenvolvimento sustentável corporativo ao promoverem a viabilidade econômica com prudência ambiental e justiça social (ALMEIDA, 2002; MOURA, 2002).

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

ALMEIDA, F. O bom negócio da sustentabilidade. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002.​

 

BARBIERI, J. C.; CAJAZEIRA, J. E. R. Responsabilidade social empresarial e empresa sustentável: da teoria à prática. São Paulo: Saraiva, 2009.

 

DRUCKER, P. F. “The discipline of innovation”. Harvard Business Review, v. 80, pp. 95–104, 2002.

 

EXAME ACADEMY. ESG: as três letras do sucesso responsável.  Exame, 2021. Disponível em: http://image.comunicacaoexame.com/lib/fe2f11717164057d7d1178/m/3/3534eea1-f571-4842-b0c4d4ec47a9494b.pdf. Acesso em: 05 dez. 2021.

 

JEREISSATI, J. ESG: uma evolução no modelo de negócio nas empresas. [In] Inovação: o motor do ESG. Fundação Dom Cabral. 2021. Disponível em: https://ci.fdc.org.br/AcervoDigital/Ebooks/2021/ESG%201/Sess%C3%A3o1_ESG.pdf.  Acesso em: 05 dez. 2021.

 

KAMIYAMA, A. Desenvolvimento sustentável. In: SÃO PAULO (ESTADO). SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE/COORDENADORIA DE BIODIVERSIDADE E RECURSOS NATURAIS. Agricultura sustentável. São Paulo: SMA, 2011.

 

MOURA, L. G. V. Indicadores para a avaliação da sustentabilidade em sistemas de produção da agricultura familiar: o caso dos fumicultores de Agudo. Dissertação de mestrado. Desenvolvimento Rural. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2002.

 

PEDROZA, D. C.; LIMA, O. Capitalismo de Stakeholders: como engajar as partes interessadas na agenda ESG. [In] Inovação: o motor do ESG. Fundação Dom Cabral. 2021. Disponível em: https://ci.fdc.org.br/AcervoDigital/Ebooks/2021/ESG%201/Sess%C3%A3o%204.pdf. Acesso em: 05 dez. 2021.

 

PINTO, B. D. L. et al. Indicadores de desenvolvimento sustentável para caracterização de melhoria contínua em processos de certificação ambiental. Meio-Ambiente Industrial, São Paulo, ed. 92, ano XVI, p. 18-28, 2011.

 

PORTER, M. E. “The competitive advantage of nations”. Strategy: Critical Perspectives on Business and Management, pp. 73–91, 1990.

 

SAWHNEY, M.; WOLCOTT, R. C.; ARRONIZ, I. “The 12 different ways for companies to innovate”. MIT Sloan Management Review, v. 47, n. 3, pp. 75, 2006.

 

SCHUMPETER, J. A. Capitalism, Socialism and Democracy. London e New York: Routledge; Taylor & Francis e-Library, 2003.

 

SPITZECK, H. A sustentabilidade corporativa morreu? Vida longa ao ESG. [In] Inovação: o motor do ESG. Fundação Dom Cabral. 2021. Disponível em:https://ci.fdc.org.br/AcervoDigital/Ebooks/2021/ESG%201/Sess%C3%A3o1_ESG.pdf. Acesso em: 05 dez. 2021.

 

VAZ, J. ESG: valor coletivo para negócios, pessoas e planeta. [In] Inovação: o motor do ESG. Fundação Dom Cabral. 2021. Disponível em: https://ci.fdc.org.br/AcervoDigital/Ebooks/2021/ESG%201/Sess%C3%A3o1_ESG.pdf. Acesso em: 05 dez. 2021.

 

WCED – World Commission on Environment and Development. Our Common Future. Oxford: Oxford University Press, 1987.