A ação humana é examinada pela Escola Austríaca de Economia no campo da Praxeologia. O alicerce fundamental desta filosofia é que seres humanos agem para atingir fins desejados de maior satisfação subjetiva (MURPHY, 2010).
Essa é uma filosofia construída a partir da Epistemologia, do tipo factual dedutivo, isto é, uma ciência apriorística (IORIO, 2011). Esta metodologia diverge profundamente das ciências naturais, cujas metodologias empíricas, baseadas em observação, são a posteriori. Isso ocorre porque é absolutamente impossível conduzir experimentos sociais verdadeiramente controlados, com amostras exatamente iguais (MURPHY, 2010).
A Praxeologia dá origem ao conceito de Função Empresarial que, como definido por DE SOTO (2013), trata-se do processo espontâneo e complexo, construído por meio da interação de milhões de pessoas com diferentes objetivos e frações de conhecimento, resultando na criação, transmissão e ajuste de informações competitivas e que permite a coexistência pacífica e mercadológica da sociedade.
Böhm-Bawerk, proeminente acadêmico da Escola Austríaca, trouxe, em 1890, o conceito de preferência temporal, cuja conclusão é verificada na prática através do experimento chamado popularmente de O Teste do Marshmellow, conduzido em 1970 (NAVIDAD, 2020). Sendo esse um dos mais interessantes pontos de interseção da teoria austríaca e Finanças Comportamentais moderna.
BÖHM-BAWERK (1890) afirma que, quando indivíduos agem, ponderam entre os meios e valores-fim, exercendo função empresarial. O ser humano tem a preferência por bens presentes, portanto, o ganho dos bens futuros deverá ser subjetivamente mais valioso. Ao exercer a função empresarial, o agente deve escolher renunciar a bens no presente por bens no futuro, de forma que estes tenham valor superior ao consumo imediato dos bens presentes.
Esse é um processo civilizatório que permite o progresso econômico. Um paralelo na agricultura pode ser tirado ao imaginar uma tribo que nunca poupa suas sementes, consumindo todos seus recursos de forma imediata. Essa tribo estará condenada a viver sem nenhum progresso econômico. Já uma tribo que aceita passar pelo jejum e renunciar à satisfação momentânea, consegue poupar parte das sementes e plantá-las, desenvolvendo a agricultura e aumentando sua produtividade. Mais produtividade permite que essa tribo se dedique a outros fins, avançando sua civilização. Foi nesse princípio que algumas crianças falharam no Teste do Marshmallow. Ao não renunciar a satisfação presente em nome de algo melhor no futuro, demonstrou-se uma propensão a um comportamento que atrapalha o progresso pessoal e econômico.
O fato desse conceito estar mapeado desde 1890 mostra a solidez da tese austríaca de economia para análise da ação humana e seus impactos em finanças, destacando sua relevância no campo de estudo das Finanças Comportamentais.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BÖHM-BAWERK, Eugen von. Capital and Interest: A Critical History of Economic Theory. London: Macmillan, 1890.
DE SOTO, Jesús Huerta. Socialismo, Cálculo Econômico e Função Empresarial. São Paulo: Instituto Ludwig von Mises, 2013.
IORIO, Ubiratan Jorge. Ação, tempo e conhecimento: A Escola Austríaca de Economia. São Paulo: Instituto Ludwig von Mises, 2011.
NAVIDAD, A. E. Marshmallow test experiment and delayed gratification. Symply Psychology, 2020. Disponível em < https://www.simplypsychology.org/marshmallowtest.html>. Acesso em: 17 de julho de 2021.
MURPHY, Robert P. Preaxeologia – A conclusão nada trivial de Mises. Mises Brasil, 2010. Disponível em <https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=230>. Acesso em: 17 de julho de 2021.