Você deve ser mais uma dessas pessoas que dividem suas vidas entre horas de folga e horas de trabalho ou expediente. Já parou para pensar na profundidade da palavra “sextou”? Certo dia, rolando a barra do meu celular, me deparo com diversos “sextous”, então parei e me perguntei o que realmente queria dizer essa palavra e, dentre os diversos significados que ela pode ter, um deles (que eu pensei, é claro – não quer dizer que seja uma verdade) me deixou um tanto “triste” e fez com que eu me questionasse: será que as pessoas não são felizes em seus trabalhos? Não vemos as pessoas postarem a palavra “segundou”, ou você já viu?
Talvez até tenha visto, mas será que ela era carregada com a mesma “vibe” do sextou? Ah, mas é claro que a gente prefere estar sem trabalhar e curtindo com a família, amigos, praia, tempo livre, dentre outras coisas que apreciamos, mas o contraponto também precisa ser pensado: não podemos, ou não devemos, ou ainda, não precisamos sofrer enquanto trabalhamos!
Sabemos que o trabalho pode ser um fator gerador de sofrimento, até pelo fato de nem todas as pessoas terem um trabalho que traz sentido às suas vidas. Algumas vezes, as pessoas trabalham para o seu sustento financeiro, e é só. Um dos fatores importantes para a busca de felicidade no trabalho é ele fazer sentido – estar conectado com nossos valores pessoais. Sendo que, para que isso ocorra, temos um importante fator a ser desenvolvido: o mindfulness.
Um dos nomes mais conhecidos do mindfulness, o vietnamita Tich Nhat Hanh diz que qualquer tipo de emprego pode ser agradável, desde que seja efetuado com o estado de espírito correto – com atenção, consciência e compaixão. Aos poucos, fomos desenvolvendo um hábito no trabalho e em nossas vidas, o de fazer tudo depressa. Quando isso está automatizado, temos a receita perfeita para o estresse.
É comum das pessoas que trabalham muito (e poucos hoje em dia não o fazem) dizerem que não tem tempo para praticar mindfulness, pois, muitas vezes, podem ter se colocado metas de maneiras perfeitas e performáticas de como estabelecer as práticas em suas vidas. Cabe aqui ressaltar que o mindfulness pode ser praticado desde uma respiração até a saída de uma sala de reuniões a outra, desde que haja a intenção.
O processo pode se tornar mais fácil se deixarmos, por exemplo, um bilhete para nós mesmos em nossa mesa de trabalho (ou qualquer outro local de fácil acesso e que teremos de acessar) com nossas intenções por escrito, por exemplo:
“Hoje quero tratar a todos de forma gentil, isso me inclui.”
Essa frase me lembrará minha intenção, toda vez que meu piloto automático entrar em ação, afinal de contas, todos nós gostaríamos de desfrutar de um retiro em silêncio, em meio a montanhas de filme, com boa comida e bebida e muito, muito tempo. Mas não é assim que a vida acontece, e se acontecesse, será que conseguiríamos ficar parados? Apreciando a quietude? O ‘’modo fazer’’ está sempre nos acompanhando e muito possivelmente não conseguiríamos ficar parados, então este tabu deve ser quebrado para que possamos sentir que é possível sim apreciar a vida em nossos locais de trabalho, mesmo com tempo apertado, pois é assim que a vida acontece.
Convite: sente-se em qualquer lugar, com o barulho que estiver, sem ter que mudar nada, sem ter que pedir silêncio e com a permissão de um minuto sem olhar para o telefone (você também não precisa monitorar o tempo – é aproximado) e faça algumas respirações da maneira mais consciente e atenta que conseguir. Com gentileza, observe o ar entrando pelas narinas e o ar saindo. Se você estiver em pé, faça a mesma parada da respiração, convide sua atenção com gentileza para focar no ar que entra e no ar que sai de sua boca. A prática de respiração consciente leva segundos, pois podemos fazer uma respiração consciente – entre em um esquema de que “qualquer coisa é melhor do que nada” –. Esse é um esquema que costumo usar com meus clientes quando eles querem começar alguma coisa nova e acreditam que será difícil – e será, pois tudo no começo parece mais difícil, e às vezes o é. Ao focar na respiração, paramos nossa mente e isso pode ser muito útil, pois paramos de ruminar problemas do passado e também de focar e tentar resolver as incertezas do futuro.
O que acontece quando estamos plenamente presentes é que aceitamos mais o momento como ele é, conseguimos viver mais nele e, por consequência, sofremos menos, e isso pode ser feito no ambiente de trabalho. Focando na nossa respiração, podemos nos dar conta de algo importante – estamos vivos, e isso, por si só, já pode ser um presente.