A Transformação Digital e o Jovem Profissional do Futuro Presente

Hoje já se fala em carreira 5.0 [3], na qual o indivíduo precisa abranger um espectro cada vez maior de atribuições – polimatia, visão sistêmica e futurismo estratégico são algumas habilidades sugeridas – e um repertório cada vez mais elástico [4] – um abraço maior à literatura, às artes, a um universo não tão obviamente associável ao mundo corporativo. Com a aceleração da transformação digital – tema que veio como avalanche consequente do “novo normal” trazido pela pandemia do Covid-19 – esse arcabouço de competências abraça mais um recente fator: o darwinismo digital [3] (em suma, a capacidade humana em acompanhar a evolução acelerada das tecnologias).

 

Em meio a essa chuva de Buzzwords, passa a ser natural que se exija cada vez mais do novo ingressante no mercado. Se na geração passada, por exemplo, um conhecimento básico da língua inglesa era um baita diferencial, hoje, a régua passa a ser a fluência em uma terceira língua. Seguindo a mesma analogia, se um curso de datilografia já foi o auge no curriculum vitae de alguém, hoje se espera algum domínio em linguagem de programação. Mas talvez a maior ruptura geracional seja mesmo a desvalorização do diploma na parede: se nas duas últimas gerações um duplo diploma já foi muito aplaudido, hoje ter um diploma deixa de ser necessariamente um pré-requisito para uma carreira bem-sucedida. E esse não é um ponto difícil de ser fundamentado. Basta citar alguns exemplos de sucesso como Zuckerberg, Jobs, Gates, além da tendência inegável que se observa na contratação em multinacionais seguindo esse princípio (a exemplo da Tesla e Google, gigantes de tecnologia, ramo mais disruptivo por natureza).

 

Portanto, vê-se que é cada vez mais complexa e diversa a abordagem esperada de um jovem de talento para abraçar o futuro presente. Apesar dos especialistas e pesquisadores ainda serem necessários e importantes, espera-se muito mais do que uma habilidade técnica ou acadêmica específica do jovem profissional: são as competências comportamentais que mais regem no menu. Trabalho, repetição, fracasso e persistência, [2] segundo Kevin Ashton, são o que geram no indivíduo – a exemplo de competências comportamentais – a criatividade para soluções inovadoras de problemas, aptidão central hoje de alguém que busca ser um bom candidato no mercado. Pensar diferente, olhar de forma diferente e instigar as diferentes perspectivas sobre um mesmo problema [1] são formas de aguçar essa criatividade, que definitivamente é mais um framework do que um talento para poucos.

 

Em resumo, com tecnologias cada vez mais rápidas e consumidores mais ávidos e impacientes, caminhamos para um futuro onde as pessoas terão cada vez maior acesso à informação e poder de mudança na sociedade. Com isso, o jovem ingressante no mercado tende a ocupar mais comumente o papel de um verdadeiro entrepeneur, trazendo na mochila disrupção técnica, vantagem competitiva e direção estratégica. Mais uma vez, não basta ter um “bom currículo” com línguas e cursos, é preciso demonstrar a capacidade de visão sistêmica, de conexão multidisciplinar, de criatividade, e outras competências que vem com muito “trabalho, repetição, fracasso e persistência”.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

[1] BRANDENBURGER, Adam, To Change the Way You Think, Change the Way You See, 2019. Disponível em: <https://hbr.org/2019/04/to-change-the-way-you-thinkchange-the-way-you-see>. Acesso em 09 out. 2021.​

 

[2] FRABASILE, Daniela, “Ideias são supervalorizadas”, diz pesquisador do MIT, 2016. Disponível em: <https://epocanegocios.globo.com/Carreira/noticia/2016/10/ideias-saosupervalorizadas-diz-pesquisador-do-mit.html>. Acesso em 09 out. 2021

 

[3] PIAZZA, Carlos. Por uma carreira 5.0. Revista HSM Management. Nº 144, p. 86-88, jan./fev. 2021.

 

[4] PUJOL Leandro; OLIVEIRA Danielly. Seu repertório é elástico? Revista HSM Management. Nº 147, p. 57-65, jul./ago. 2021.