Criatividade como novo modus operandi da Sociedade da Transformação Digital

A sociedade moderna evolui a passos largos desde quando a escrita foi instituída. A partir dela, foi possível passar o conhecimento adiante e desenvolver a technee e epistemese (século XV) para formar a ciência e a tecnologia modernas (LELLO, 2010). Os dados (informação) são responsáveis pela evolução da sociedade. A transformação é uma constante, pois, assim como na biologia, quem não se adapta, padece. Vivemos o tempo presente e, neste, o mundo é VUCA (, incerto, complexo e ambíguo), pois a variável “dados” já não está mais sob nosso controle, a transformação digital amplifica as capacidades do homem.

 

Temos, então, um contexto muito semelhante ao observado em meados do século XIX, época na qual as fotografias começaram a se popularizar, enquanto a arte vigente, Escola Neoclássica, se torna rapidamente efêmera, pois não se faz mais necessário retratar a realidade. A tecnologia proporcionou a democratização do retrato e da reprodução do que é visto. A objetividade neoclássica perpassou a obsolescência; a arte busca em outros movimentos sua inspiração, como: sentimentos conflitantes, dor, representação da realidade, utilizando-se de formas e cores, demonstrando o estado de espírito da composição, entre outros (DEMPSEY, 2003).

 

Após 100 anos da fotografia, temos na arte uma nova percepção de mundo que traz na criatividade, tecnologia e sua própria ressignificação, outros conceitos e formas de entendimento. A arte se torna entretenimento, algo próximo à cultura popular com o uso de materiais do dia a dia, com liberdade e utilizando-se da efemeridade artística para criar (DEMPSEY, 2003). Torna-se dinâmica e menos tecnocrata, assemelhando-se à realidade observada por Conde de Saint-Simon em meados do século XVII:

 

“[…] No momento em que todos os nossos conhecimentos particulares eram conjecturais ou metafísicos, foi natural que a direção da sociedade, no que se refere aos assuntos espirituais, estivesse em mãos de um poder teológico, porque os teólogos eram, então, os únicos metafísicos gerais. Em contrapartida, quando todos os nossos conhecimentos estão fundados em observações, a direção dos assuntos espirituais deve ser confiada à capacidade científica positiva. “ (Saint-Simon, citado por Martins, 1975, pp. 48)

 

O pensamento baseado em observação de fenômenos e fatos da escola positivista (MARTINS, 1975), em parte, nos trouxe para o momento em que vivemos, no qual o conhecimento científico está posto e disponível por meio da tecnologia. O homem do século XIX, que saiu do campo, veio às cidades para trabalhar em indústrias, estudou e se especializou em uma área do conhecimento, estará, em breve, obsoleto frente sua profissão, ao passo que muitos serão substituídos por máquinas e processos.

 

Assim como os artistas frente à introdução da máquina fotográfica, devemos identificar no pensamento criativo e na capacidade de resolução de problemas, elementos que proporcionarão condições para nos reinventar, assim como Matisse, Van Gogh, Edvard Munch, esses sendo precursores de uma arte além do Positivismo. O saber individual passa do cumulativo e da repetição para o protagonismo da busca e da capacidade de se adaptar com criatividade.

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

AGRA, Lúcio. História da arte do século XX: Idéias e movimentos . 2. ed. São Paulo: Anhembi Morumbi; 2006.

 

DEMPSEY, Amy. Estilos, escolas e movimentos: guia enciclopédico da arte moderna. Cosac & Naify. 2003. 304 p.

 

LELLO, Ricardo, C. Reflexões sobre o conceito de tecnocracia em Platão, Saint- Simon e Veblen. Monografia. UFRJ. 2010. 103p.

 

MARTINS, Carlos Estevam. A Tecnocracia na História. São Paulo: Alfa-Ômega, 1975.